domingo, 9 de outubro de 2011

IMAGINE

Hoje seria aniversário de John Lennon. Ouvindo as músicas da época, trago algo que escrevi naqueles tempos

PAREDES

                                      ( O tempo: l968/9,  a angústia, a mesma)


             
 Estou entre duas paredes. Desde que acordei estou assim. Nem sei se foi desde que acordei, ou desde que dormi. Acho mesmo que é desde que nasci. Uma parede lisa e escura de um lado e uma parede branca e cheia de rugas de outro. Se me aproximo de uma sinto uma sombria tristeza macia que é ao mesmo tempo aconchegante e sufocante. A maciez da parede dá me uma paz que não sei dizer se é sentimento ou acomodação. Mas lá é tudo tão escuro, os olhos parecem fechar-se a tudo. Não notamos nada que se passa ao nosso lado. Ficamos protegido. Nosso ser  não se machuca em nada. Ficamos ignorante de tudo, passamos a vida inteira raspando-nos na parede e saímos do outro sem sentir completamente nada. Nada . Sabe o que é  nada? É  procurar um pensamento dentro da cabeça, e não achar nada lá  dentro. É  como o escritor sentar-se frente a uma máquina de escrever e não saber o que está  fazendo ali . É  uma namorada não saber porque esta querendo escolher o melhor vestido para encontrar com aquele rapaz, ou ainda não saber nem porque encontrar aquele rapaz. É  assim toda aquela parede. É  um nada escuro e abafado. As pessoas que você  encontra ali  não tem cor, não tem, cheiro, não bate o seu coração.


              A outra parede tem luz. Lá  podemos respirar, mas lá  nós vemos, sim nós vemos tudo que existe. Vemos guerras, ódios, desilusões, computadores, homens na lua, vemos fome na esquina, vemos, como diz o Caetano que " uma criança magra e morta estende a mão". Nesta parede vivemos nos machucando nas suas rugas, vivemos sentindo no corpo as pontadas de mil alfinetes, machucando-nos e machucando-nos.

            Passeando, como fez Dante, entre uma parede e outra, vemos que a diferença entre as pessoas é a luz que ilumina a segunda parede. Nesta aqui todos sentem as dores de todos. Do lado claro vivem aquelas pessoas que sabem que o mundo vai explodir logo, logo, se por acaso as pessoas não fizerem alguma coisa para salvar as outras pessoas.

            Mas os conscientes sofrem, porque sempre que eles estendem a mão são impedidos por aqueles que se encontram, na penumbra. São aqueles que sabem que de um lado tem pessoas que sofrem, e que do outro lado tem pessoas querendo ajudá-las, mas sabem que se os da escuridão passarem para a luz, deixarão de obedecer cegamente os cordéis que estão atados aos seus dedos, dirigindo seus gestos, porque os da escuridão não percebem que estão sendo conduzidos.

            A luz.
 Descobri o que é  esta luz. A luz é  o conhecimento, é  o saber, É  saber amar e saber que se sabe amar, É  o saber cultural, é o saber sentimental, por isto que às vezes de uma parede ã outra passa um facho de luz, mas insuficiente para faze-los mudar de lugar.

 Quando aquelas pessoas que estão no meio, que adquiriram o saber, mas não o amor pelo próximo, deixarem de ser bestas, e pensarem menos em si, do que nos outros, quando eles mesmo pensarem e se encostarem nas paredes rugosas, talvez aquela parede sem dor, mas sufocante, seja destruída, e a parede  branca seja alisada, e todos aqueles que sofrem não mais sofrerão.

            Mas... sonhos! Quem esta entre um pouco de conhecimento e sem amor não quer de lá e  sair, É preferível meia dor, com amor e sofrimento.

            E os governantes e políticos? Estes são uns idiotas.