sexta-feira, 5 de outubro de 2018

MEUS DISCOS ESCOLHIDOS 3

E nesta viagem pela minha memória musical, a essência das minhas noites, tanto acompanhado, como sozinho. Ouvir estes dois permitia viagens melhores do que qualquer fantasia. Uma encarada num universo novo que encantava aquele adolescente.
Uma lembrança de racismo acaba entrando aqui. Certa vez, ao falar da minha paixao pela Elis, escutei de um cara: "Mas ela dá pra aquele negão, como voce pode gostar dela?" 
Infelizmente, minha resposta poderia até ser melhor, mas só disse, que gostava de ouvi-la. e não me interessava do que ela fazia com outras partes do corpo e com quem.
Quase furei de tanto ouvir na minha "eletrola " . É tenho hoje em CD e em todas as demais mídias. Voltamos ao samba, agora com Jair e Elis

MEUS DISCOS FAVORITOS 2

MEUS DISCOS FAVORITOS - 2

Comecei com a bossa nova, mas a efervescência daquele final dos anos 60 me fez sair daquele teatro na Brigadeiro e ir para Liverpool onde 4 rapazes começavam uma carreira musical que até hoje agita o mundo.
Para vê-los, uma pequena odisseia pelo centro de São Paulo, para conseguir assistir o filme Os Reis do Ie Ie Ie. Longas filas em todos os cinemas, até que descobri que também estava no Cine Jussara, conhecido por passar filmes , digamos assim, um tanto eróticos. Talvez por isso, a fila era pequena.
 Ouvia muito no rádio e só comprei o disco já casado. E olhava que tinha que procurar entre os samba cancões, boleros e outros. O disco Love me do só fui comprar mesmo muito tempo depois, já casado

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

MEUS DISCOS PREFERIDOS - 1


Dentro das brincadeiras saudosistas do Facebook, uma chamou minha atenção. Escolher dez discos que voce mais ouviu. Extrapolei um pouco esse mais ouviu, e fui pensando naqueles que fizeram minha cabeça, ou acabram por fazer parte da minha história.
Tenho a vantagem de ter participado na minha adolescência / juventude de um momento histórico. Então minha história se confunde com A história por um período.
Pra começar, um show no Teatro Paramount , onde é hoje o Teatro Renault.
Ganhei o lp aos 17 anos. Uma porção de artistas estreantes. Hoje nomes consagrados.
Zimbo Trio, Elis, Marcos Vale etc. 
Terra de Ninguém acabou virando um hino. E a interpretação que o Zimbo Trio é um marco de musica instrumental
A imagem pode conter: texto

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

 DIGA-LHE QUE ENTRE

Estava o velho deitado na cama. Ao seu lado velava o filho mais novo. Filho que já não era tão novo. Mesmo tendo nascido quando ele já estava com quase cinqüenta, era agora um homem de seus 35 anos.
A doença o fazia sofrer. Já nem se lembrava da última vez que deixou aquela cama. Passava os dias pensando e lembrando. E o filho ali, a toda hora velando por ele. De vez em quando vinha uma enfermeira, passava ali algumas horas. Das suas duas filhas, uma morava em outro país, só ouvia sua voz por telefone, e muito raramente. A outra, com dois empregos e três filhos, mal conseguia cuidar dela mesma.
E ficava este filho a lhe cuidar. Sempre muito protegido. Nunca exercera uma profissão, vivendo do que o pai lhe dava. Boa alma, bom caráter, mas indolente sem ser preguiçoso. Não gostava de sair de casa. Sempre caseiro, com seus livros, seus discos. E agora a cuidar dele, com carinho e paciência.
A campainha da porta toca. O filho se levanta para atender. O pai o chama:
— Meu filho, veja bem quem está tocando. Se for a Dalva, uma antiga namorada que tive antes de conhecer sua mãe, que ficou brava comigo porque não a levei para cama, e que sempre me cobrou isso, diga-lhe para ir embora. Não tenho mais apetite nem para sexo, nem para vencer antigas batalhas.
— Se for um rapaz loiro forte, querendo brigar comigo, porque um dia, numa festa ele mexeu com sua mãe, e dei-lhe um empurrão e ele ficou na saída a me esperar para terminar a briga, expulso que foi pelos donos da casa, e ao sairmos, os nossos amigos em comum não nos deixaram terminar aquela briga, diga-lhe que esta é mais uma das coisas que deixarei sem terminar. Não vou brigar agora, e acho que ele também não está mais em idade de brigar por mulher. Diga-lhe para ir embora.
— Se for uma criança, uma menininha de nome Maria, Maria Fernanda, com seus três anos, diga-lhe para ir embora. Até hoje choro por não estar no hospital no dia em que ela morreu. Era para ser mais uma das suas irmãs, mas levou-a cedo uma doença esquisita. Ficou dela uma dor e uma saudade.
— Se quem estiver ali na porta for o Manoelzinho com uma bola me chamando para jogar, diga a ele que não sei mais chutar, nem mesmo de dar um bom passe sou capaz. Perdi a paixão pelo esporte, e nem sei mais se valeu a pena chorar aquelas derrotas e cantar aquelas vitórias. Diga-lhe para ir embora.
— Olha meu filho, pode ser o Sidney, um padre, que sempre tentou me ensinar como professar uma fé, como seguir de verdade um religião. Pobre Sidney, quanta conversa perdida, quanta saliva gasta com este pecador renitente, que buscava apenas o prazer de uma cerveja, em lugar de se ajoelhar para rezar. Diga ao Sidney para ir embora, pois os meus pecados e virtudes já estão registrados, e pouco ele pode fazer por mim agora.
— Quem sabe seja sua mãe, que vem me fazer uma última visita. Não a deixe entrar, não quero me veja assim. Afinal, já se vão dez anos desde que ela morreu, e se eu já não estava muito bem naquela época, bem pior estou agora. Diga-lhe que ela me espere, que logo estarei com ela, lá, onde ela está. Não a deixe entrar.
— Mas, meu filho, se quem estiver batendo for a morte, esta maldita dama, que a todos aniquila, que desde o nosso nascimento fica de tocaia a esperar pelo momento de dar o seu bote, que sempre atinge o seu objetivo, pois se até Lazaro, que foi salvo por Jesus, morreu depois. Se for esta dama, que já levou a Dalva, a Maria Fernanda, a sua mãe, o Sidney, o rapaz louro que queria brigar comigo, se for a morte meu filho e se ela vier me buscar:

— Diga-lhe que pode entrar.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Esta foto foi tirada em Mairiporã/ Minha mãe estava rezando num momento de angústia porque sua neta não estava bem, e o fotógrafo, até para distrair a cabeça, achou por bem prender para a eternidade aquela tensão.
Ao ver esta foto antiga, lembrei de uma outra vez, quando ela também fez aquilo que uma avó sempre sabe fazer: proteger os netos. E aquilo foi tão marcante que até escrevi algo naquele dia

Fe

Hoje a angustia bateu
Eu não sabia mais como agüentar
Ver a menina lá
Quieta, a me olhar
E eu, sem poder saber
O que ela estava sentindo


De repente apareceu
Como de um sonho gostoso
Uma pessoa que veio até o meu lado
E ao meu lado sentou
Tão quieta como chegou
Abriu uma gaveta do lado
E de lá saiu
Um livro e uma cruz
E sem que eu pedisse
E sem nada dizer
Começou sua reza, pedindo a Deus
Pra cuidar da menina
Que estava lá
A nos olhar
E eu rezei, sim rezei
E eu chorei
Acompanhei aquela reza
Me agarrei naquela reza
Como um náufrago
Segura o que sobrou do barco
Como um doente
Segura a mão do médico
E então, como por encanto
      A reza acabou
      E quieta como chegou
      Ela se foi
Levou a minha angústia

Deixou sua paz.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

UM CAMINHO DIÁRIO



Uma rua, comprida, que nasce na beira do rio Tietê e vai morrer dois quilômetros adiante numa praça da periferia de São Paulo. No seu começo, além de se ver o rio, vê-se muitas árvores de um imenso jardim, tão grande que é quase um parque e umas casas velhas. Depois de cruzar a avenida a rua já se sofistica (pouca coisa, pois estamos num bairro operário). Algumas lojas e uma escola estadual.
Antes de chegar na linha do trem, um prédio abriga uma igreja, destas que nos anos 90 se tornariam mania; aqui, apenas uma precursora. A linha de trem precisava ser atravessada correndo pois os trens vinham dos dois lados, e onde morreram muitos pedestres desavisados.
A lembrança deste trem trás de volta a amiga bem mais velha, com quem subia toda a noite esta rua, vindo da escola. Os dois cantando “Quem é você” de Chico Buarque, eu fazendo o “pierrô” ela a “colombina” , conseguindo harmonizar os versos de tanta repetição. A irmã dela, mais nova, que estudava na minha classe, vinha quieta e tímida ao nosso lado. Uma tão extrovertida e alegre, e outra tão fechada.
Na passagem de nível o desvio até o viaduto recém inaugurado, distante duas quadras, porque alguns dias antes alguém fora atropelado ali. A irmã mais velha morria de medo e forçava aquela volta. Voltávamos à rua e seguíamos juntos até a casa delas.
Logo após a linha vinha a ladeira onde o ônibus resfolegava e gemia, subindo tão devagar que mais valia ir a pé. Não era a toa que o apelido dele era Poeirinha. Estava sempre atrasado, e apesar de sair de perto da minha escola, e passar na esquina de casa, só o tomava em dias de chuva.
No meio da ladeira a travessa onde um dia, anos depois, a paquera abusada foi bem sucedida, mas esta história tem mais a ver com ônibus vazio, do que com a rua de todo dia.
Também pela metade da ladeira ficava outro colégio, desta vez velho conhecido, pois ali estudei os terceiro e quarto anos primários, e uma outra pequena escola, esta talvez mais marcante, com nome de Anchieta, pois lembro dela, mesmo tendo cursado apenas dois meses como preparatório para entrar no ginásio do Estado.
Vinha a seguir uma praça e no lado formado pela rua que falo ficava o posto que um dia pegou fogo e agitou todo o bairro. Na esquina uma padaria que de tão movimentada transformou seu dono em vereador, e o filho dele em apresentador de um programa sobre Portugal.
Depois da praça, quatro quarteirões que se perderiam na sua simplicidade, não fosse a feira semanal que aos domingos preenchia aquele espaço de vozes, sons e muita gente. Comprava-se café perto da padaria, e andava-se em toda a extensão da mesma até chegar em frente a adega onde terminava a feira.
Ao passar esta adega, um outro quarteirão, o último da rua. Um belo terreno onde o Cruzeiro F.C.. se apresentava todos os domingos, e onde brigas homéricas se sucediam. Numa destas os contendores foram parar nos sobrados que estavam sendo construídos do outro lado rua, e de onde não sobrou quase nenhuma madeira inteira. Este terreno transformava-se em bela lagoa em dias de chuva, até que construíram ali mais um colégio, famoso pela qualidade e pela quantidade de alunos.
Ao fim de mais uma ladeira, esta pequena, o entroncamento com outra praça, que abrigou a primeira biblioteca infantil do bairro. Na esquina uma padaria e uma farmácia, mais um consultório, pela fama que tinha o farmacêutico.
Todas as noites subia por esta rua ao voltar da escola. Acompanhado pelas amigas até a praça, e depois sozinho. Geralmente atravessava a praça em diagonal para pegar a Coelho Lisboa. Prestava atenção naqueles prédios todos, imaginando o que se passava lá dentro. Nas longas caminhadas até chegar em casa, ou então, em noites de chuva, ao passar de ônibus. A rua Tuiuti é hoje uma rua cortada. Uma estação do Metrô atrapalha ( ou facilita) o caminho. Lojas e mais lojas se amontoam perto da Silvio Romero. Ainda tem suas quatro escolas, o que num país de tantos analfabetos é de fazer inveja em qualquer possível concurso que as ruas tenham entre si. De vez em quando passo por lá a procurar o moleque, mas sei que ele esta dentro de mim.
Na rua Tuiuti começa a rua dos Cristais, bem em frente á igreja de um destes pastores, e por esta rua passei muitas vezes em frente à casa de uma menina, mas isto já é uma outra história.



segunda-feira, 15 de junho de 2015

EITA TREM BÃO

Estamos de volta à velha discussão de "falar correto", "escrever correto".
Desde às criticas nas redes sociais das novas formas de expressão na comunicação até aos pesados argumentos contra a pretensão de alguns linguistas, incentivada pelo Ministério da Educação, de aceitar expressões como "nós vai" e outros erros de concordância antes de decidirem por uma eliminação de quem escreveu.
Esta briga não vai terminar nunca, e vou citar aqui um fato que ocorreu comigo, no tempos que estudava e que acredito ilustrar os dois lados da discussão.
Em um estágio de Psicologia Escolar um grupo de estudantes foi solicitado a aplicar em algumas crianças testes de prontidão para alfabetização.
Um deles trata de mostrar figuras às crianças para que elas identifiquem o objeto.
Solicitado, feito, apresentamos à coordenadora os resultados obtidos com as nossas crianças.
Uma estagiária chegou com um resultado surpreendente: um dos seus entrevistados tinha tirado zero em todas as questões.
Foi decidido então que se reaplicaria o teste e fui o escolhido.
O garoto de 6 anos morador da periferia de Ribeirão Preto, tinha chegado à cidade faziam poucos meses. Toda sua vida tinha se passado numa fazenda de uma cidade pequena no interior de Minas Gerais.
Comecei o teste.
Primeira prancha a foto de uma panela e ele "Isso é um trem de cozinha"
Segunda prancha, um rastelo e ele" Isso é um trem de mexer na terra"
Terceira prancha, lápis e caderno e ele "Isso é trem de escola"
E assim seguiu.
Voltei então à reunião, e sendo um pouco maldoso abordei a moça porque ela tinha dado zero e ela
- Ele tinha que dar nome aos objetos e ele não sabia o que era, tudo ele dizia que era um trem.
Depois das risadas e de explicar a ela as manias de linguagem dos mineiros o menor foi considerado pra ser alfabetizado.
Bom porque essa história?
Pelo choque das duas culturas. A estudante por desconhecer uma tipicidade de linguagem de uma região estava pronta a reprovar o menino e consider-a´lo qualse um deficiente mental
O menino, por sua formação, conhecia os objetos e até sabia os nomes reais, mas pela convivência preferia chama-los de "trem" com um qualificativo;
Então, tenhamos paciência com aquilo que chamamos "erro". O mesmo riso que você der poderá receber de volta