Tudo começou em 1500. Ou antes, nunca se vai ter certeza. Vieram até aqui, pegaram o que desejavam e foram embora. Deixaram alguns. Quais os que ficaram? Os expatriados, os criminosos, etc. Não foi sem querer. De certa forma eles estavam começando a “educar” o novo país.
Depois vieram mais. Os que não estavam bem. Aqueles que queriam melhorar de vida e voltar para se mostrarem como ricos. Os que sobraram na distribuição dos favores do rei da época.
¾ Majestade, está faltando o Conde XX, e o Barão YY. Eles não receberam nada.
¾ Para este RESTO aí, de uns pedaços daquela terra que o Cabral falou.
Lá na Europa tinha alguns que queriam ir embora por razões de consciência. Optaram pelo norte das novas terras.
O RESTO veio para o sul. Resto e frustrado. A idéia era vir, ganhar dinheiro, comer umas índias e voltar.
Depois veio uma turma grande. Os fugidos do Napoleão. Na hora que deu para voltar, quase todos se mandaram, ficou um RESTINHO por aqui.
E de RESTO em RESTO fomos construindo um novo país.
No início deste século que está acabando, alguns dos restos que aqui permaneceram, haviam melhorado financeiramente e resolveram trazer uns pobres para trabalhar para eles. Perguntaram na Europa:
¾ O que vocês tem sobrando aí?
E as elites responderam:
¾ Tem uns pobres aqui, que só comem e atrapalham.
¾ Então manda.
E vieram. Foi a mesma coisa no Japão.
Quem você acha que veio? Aquele que tinha uma terra, tinha filhos em escola, uma boa renda, ou o RESTO? Resposta fácil não.
Só que não era só aqui que precisava de mão de obra. Lá em cima também. E foram procurar no velho mundo.
Você acha que quem imigra em troca de novas oportunidades procura que país? Veja o exemplo atual dos brasileiros. Tem alguém indo para Somália, Gabão, Paraguai, Equador ou Etiópia? Lógico que não.
Quem, na época, era um pouco mais informado, foi para o Norte. Assim, ficamos com a SOBRA do RESTO.
Os nossos avós, bisavôs, etc. e tal vieram construir um novo país.
O Brasil virou uma imensa lata de lixo onde as elites dos países ricos jogavam seus pobres. Tinham boa formação, católicos, cristãos, budistas; cordeiros prontos para o sacrifício.
Lógico que chegando aqui alguns ganharam muito dinheiro, afinal oportunidades sempre existem num país novo e de riquezas naturais como este.
Com o dinheiro veio muita coisa. Tudo que se inventava por lá aqui começou a ter: carros, casas, livros que enchiam paredes.
Mas dinheiro, sem formação cultural a orientar sua utilização deu no que deu: motoristas deseducados e trânsito caótico; casas de extremo mau gosto e sem funcionabilidade; prédios com vidro fumê em clima tropical, com ar condicionado ligado o tempo todo; roupas e comidas de clima temperado usados livremente em país tropical.
Livros comprados a metro, em função da cor da parede, ou a estante mais valorizada do que o que ela vai conter.
E a enorme vontade de ser mais do que se é passando por cima de tudo e de todos. Levar vantagem em tudo.
Esta massa amorfa, que não deixa de ser o RESTO da Europa.
Por isso antes de reclamar que uma besta está dirigindo o carro do lado ou na sua frente, pense na origem deste motorista.
Antes de se zangar com o esperto que guarda lugar na fila para trinta pessoas e você não consegue entrar no cinema, pense no porão do navio que trouxe o avô dele.
O avô dele, o seu e o meu, que vieram para ca para ficarem ricos e não educados.
Vieram para enriquecer e ir embora, e não conseguiram, deixando-nos abandonado neste local cheio de oportunidades, maravilhoso, com uma linda paisagem, mas igualmente cheio de predadores (como nós)