quinta-feira, 31 de março de 2011

Evolução

Seria tão bom se a vida também tivesse tecla de retrocesso.
E assim seria a   EVOLUÇÃO

msnfjhkyithiywrjjygfgfy,jaakfhkdfafkyehgfeuyrjefiqyiufhufkjduurjejwitri7593rnckyhe Como você pode ver aí em cima, se datilografarmos ao acaso, a chance de que venhamos a escrever a palavra VIDA é tão remota que podemos até dize-la impossível. A partir disso, começo a duvidar quando alguns cientistas tentam dizer que a vida foi criada ao acaso. Devemos ter algo que os forneça a energia básica para nos juntarmos, um motivo para organizarmos as nossas vidas.
 Estes cientistas pedem-nos para não acreditar em Deus, mas que acreditemos que duas “alguma coisa” se juntaram um dia no mar, e se combinaram ao acaso. Só que eles não sabem o que aconteceu, pois não deu para reproduzir ainda este momento, mas tudo bem
Depois esta coisa nova começou a se reproduzir. Depois por acerto e erro foram se tornando no que somos agora, nós e todos os seres da Terra.

Acho que estão pedindo mais fé na ciência do que nas crenças. Abaixo o sublime momento de amor das primitivas formas de vida






sexta-feira, 25 de março de 2011

DESDE “ O FIO, QUER FAZER AMOR COMIGO’ ATÉ ‘TIO, QUER TIRAR A PRESSÃO?”

Quantos anos terão se passado entre uma frase e outra, 30, 35, quase 40 anos. Duas caminhadas pelas ruas de São Paulo, duas frases ouvidas de duas mulheres já idosas. Na primeira vez, alem de idosa, bem mais idosa do que eu. Na Segunda, sua idade devia ser um pouco inferior à minha.
            As ruas de São Paulo já não surpreendem para quem tem o hábito de caminhar e olhar estas ruas, aquelas construções, mas principalmente as pessoas no seu eterno ir e vir, a trocar conversas e impressões.
            Um dia, há muito tempo atrás , rapazote, fui encarregado pelo chefe do escritório para levar uma correspondência do escritório da empresa em que trabalhava até uma das suas fábricas. O caminho era curto, ia da Senador Queiroz, logo próximo à avenida Prestes Maia até a Alameda Nothman. Passando através da boca do lixo, uma zona de prostituição conhecida por todos, chegaria lá rapidamente. Era qualquer coisa como três horas da tarde e caminhava rapidamente por aquelas ruas, que pareciam mais tranqüilas ruas de qualquer bairro operário, naquela pasmaceira da tarde.
            As profissionais que por lá trabalhavam todas as noites estavam descansando ou cumprindo seus afazeres de dona de casa, ou, quem sabe, fazendo suas compras lá pela rua Direita, gastando o que ganhou ontem para garantir a renda da noite a vir.
            Ao passar por uma casa escutei a frase: “ O fio, quer fazer amor comigo”.
            Olhei, mais curioso do que interessado e deparei com uma senhora de idade indefinida, mas bem avançada, encostada num beiral, aproveitado um resto de sombra.
            — Não, obrigado! Respondi até um pouco ingenuamente, e segui meu caminho. Fui pensando naquela mulher, e se ela ia conseguir algum cliente. A rua estava quase vazia, um que outro gato pingado, ou empregado de escritório passando por ali, assim como eu. Nenhum deles parecia estar procurando um encontro naquele momento.
            O fato dela se referir ao possível cliente como “filho” despertou uma série de pensamentos, como por exemplo, o fato dele ter idade suficiente para ser minha mãe, ou ainda, que tipo de freguês aceitaria este tipo de convite. Seria um prato cheio para um psicólogo, que na época já pensava em ser.
            Mas a história foi ficando na memória e seria esquecida, se novamente, ao caminhar por uma rua de São Paulo não fosse abordado novamente por uma senhora.
            Deste vez foi na Avenida Paulista. Estava passando, passeando por ali, no dia seguinte ao nascimento da minha primeira neta. Caminhava um pouco distraído, procurando um banco e olhando as pessoas que passavam apressadas por mim. Examinava seus rostos. Tentava identificar sonhos, anseios, sei lá mais o quê.
            De repente, alguém me segura pelo braço:
    Quer tirar a pressão tio?
E assim, em alguns anos deixei de ser um possível cliente de uma prostituta para virar um possível cliente de uma profissional da saúde. Mal sabiam elas.
            Naqueles anos da adolescência, o auge dos anos 60 a última coisa que eu pensava era numa prostituta. Afinal, a época do amor livre estava começando, mesmo para nós simples empregados de escritório. As relações eram mais soltas e gostosas, e a gente quase podia fazer uma porção de coisas com as namoradas. O que faltava não pagava o mico de arriscar com uma profissional, e mesmo assim, com a mania de grandeza do qual dizem que sou possuído, com certeza não seria com uma profissional de fim de tarde da boca do lixo.
            Agora, no novo século, tenho uma nova injeção de ânimo que agiliza a minha circulação sangüinea, fazendo com que a pressão se estabilize naqueles 12 por 8 tão propagado pelos médicos. Esta injeção atende pelo nome de Isabela, e ao andar pela Avenida ia pensando na beleza da vida. E aí novamente, a mania de grandeza, estava pensando em procurar um médico pois preciso me cuidar, afinal agora, tenho  que atrapalhar a criação que os filhos vão querer dar à neta. E vocês acham que eu ia deixar uma pessoa qualquer medir minha pressão.
            Mas, mais importantes do que todos estes pensamentos, é a constatação que aquelas duas mulheres estavam procurando um meio de subsistência. Tentando garantir hoje o pão de amanhã, ou quem sabe talvez, o jantar de dali a pouco.
            Esta sociedade que recebeu os meus filhos e que agora se prepara para receber a minha neta, e outros possíveis netos que vem por aí, exige que cada um cuide de si e dos seus.
O “fio” que passava lá na Alameda Nothman em 1968, talvez não tenha parado, porque, ente outras coisas, precisava garantir o pagamento do fim do mês, que ia bancar seu curso de contabilidade, e não podia perder tempo ou dinheiro com diversões baratas. Não sabia que nem onde queria chegar, mas sabia que tinha que fazer alguma coisa para chegar.
Já o “tio” que passeava pela Avenida Paulista não parou porque prevaleceu a distância no trato com as pessoas estranhas, o medo de se envolver, e ser enganado por aquela senhora. Desculpas, tipo não preciso deste serviço, ou pior ainda, não confio nestas profissionais que se dizem da saúde, não apagam a verdade que é o isolamento que o profissional sente pelo ser humano.
Ser humano, muito bom como cliente, ótimo como parente. Mas, povo lá e eu cá.


domingo, 20 de março de 2011

Como saber qual o momento?

COBRANDO PEDÁGIO


Era para ser apenas um momento.
Dos bilhões e bilhões que nos acontecem todos os dias.
Uma explicação, um olhar, pegar o dinheiro e passar o recibo.
Quantas vezes o gesto repetido?
Meninas bonitas, rapazes idem, ocorriam em quantidades.
Com os pais, com os tios, com colegas.
Era para ser mais um momento.
Era para ser mais uma menina.
Mas não foi.

 

domingo, 13 de março de 2011

ENCONTRO ESQUISITO

 
(a moda de CDA) (ou uma pobre tentativa de plagiar a forma que Carlos Drumond de Andrade escreveu alguns contos curtos)

A moça, dirigindo seu automóvel parou na esquina e ficou olhando absorta. O guarda que tomava conta do ir e vir dos cidadãos aproximou-se perguntando:
— Algum problema ?
— Sim, estou esperando alguém !
— Mas aqui não pode ficar parada . A senhora tem que seguir senão atrapalha o trânsito.
— Eu tenha que ficar aqui. Acordei hoje de um sonho que me dizia que aqui, nesta esquina, nesta hora, eu iria encontrar o meu amor eterno !
— Sinto muito senhora. Gostaria muito de lhe ajudar, mas os carros já começam a buzinar. A senhora tem que sair.
— Senhora não! Senhorita! - gritou a mocinha, acelerando o carro e resmungando — Guarda antipático ! Bonito, mas antipático !
E o guarda:
— Moça antipática, fresquinha ! Bonita, mas muito antipática !
E assim, por não se perceberem, guarda e moça não cumpriram o que lhes estava predestinado


Este texto esta aqui para parabenizar o Mateus, que disse ter gostado dele tempos atras, e que aniversaria hoje

domingo, 6 de março de 2011

A bicicleta azul com pneu balão

Este texto não estava na gaveta. Foi escrito hoje, 6 de março, porque lembrei do proprietario dessa bicicleta, que faz aniversario nesta data. Viveu mais de 100 anos dentro dos 50 e poucos registrados. Foi congregado mariano, participou de teatro amador, guarda civil, construtor de casa, dono de micro empresa, pai de santo (velado numa igreja) sócio de bar.
O seu nome, Mauro Mauri, ja era bem diferente, afinal, Mauros existiam muitos, Amauri tambem, Mauri poucos. Essa junção então era bem rara.
Tentou junto com o Zeca, ensinar alguma coisa para este caçula, que como todo menino, achava que os dois ja eram bem ultrapassados.
E a bicicleta?
Como veio parar aqui?
Numa época foi morar em Santos, para se afastar do ambiente que estava provocando nele algum tipo de stress. Ficou la um tempo, e ao voltar trouxe na bagagem uma bicicleta de pneu balão, que acabou sendo a primeira (e acho que a única) bicicleta que tive. Com ela subia e descia a Coelho Lisboa, fui diversas vezes ate a casa da minha tia, la na Santa Isabel e certa feita fui entregar as faturas da loja que eu trabalhava. Quando cheguei na loja todo faceiro, ja levei uma bronca do dono, o sr.Prudon, que achou que poderia haver algum perigo.
E não é que ele tinha razão. Ao descer a Tuiuti, um pouco antes da linha fiz uma curva muito fechada e cai, me ralando todo.
Bom, assim nesse 6 de março dou os parabéns para meu irmão, onde quer que ele esteja.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Encontro na beira da cama

É meio longo, e alguns dos nomes descritos já não estão mais entre nós. Mas este 
ENCONTRO NA BEIRA DA CAMA, realmente aconteceu

         O ano é 1975. Chegando ao fim, novembro quase se encerrando.
         No país, o presidente Geisel tem dificuldade de levar avante sua “abertura lenta e gradual”. NO dia 10 de outubro libera a exploração de petróleo através de contratos de risco, deixando alguns nacionalistas de cabelo em pé. E no dia 25 do mesmo mês morria no Doi-Codi o jornalista Vladmir Herzog, que foi “suicidado” pela ala dura do exército, que não via com bons olhos algumas atitudes do presidente.
         Nas ruas, o povo tentava voltar à normalidade. Combatentes de ambos os lados das batalhas do período Médici, buscavam um retorno às suas atividades de sempre. Metalúrgicos querendo emprego, médicos querendo clinicar, soldados querendo ir para os quartéis.
         Mas foi um recomeço difícil. Para ambas as partes. A história tem o vício ou a necessidade de registrar apenas os grandes eventos. As passeatas, as tentativas de golpe, a missa de sétimo dia do próprio Herzog com milhares de pessoas na Catedral da Sé. E a nós, familiares, cabe relembrar as histórias particulares.
         Uma delas aconteceu quando o meu pai foi internado depois de um acidente logo após o dia de finados de 1975 e que acabou tirando a vida dele alguns dias mais tarde.

Para um era uma visita a um irmão mais velho hospitalizado em virtude um acidente. Um ônibus, uma rua movimentada, atravessou a rua sem olhar direito. E agora ali, no hospital.
         Para o outro era uma visita a um paciente internado. Nem era seu paciente. Um outro colega atendera à emergência quando a pessoa acidentada deu entrada no hospital. Olhou para a ficha e nem leu o nome. Viu a evolução do caso, os remédios prescritos e foi cumprir sua obrigação.
         Para o primeiro era apenas um dia de folga depois de alguns dias de trabalho intenso. Seus superiores não davam folga. Nem pensou em tirar a farda.
         Para o segundo era uma intenção de retornar à normalidade depois dos dias tensos de algum tempo atrás.
        
         O médico entrou no quarto e lá estava o paciente na cama. Sedado. Ao seu lado, sentado, um homem de seus 40 anos e ao lado deste... Ao lado deste o oficial do exército que há pouco tempo atrás estava atrás dele, perseguindo-o, ordenando-lhe que parasse de executar algumas atividades que estavam incomodando as autoridades competentes do país. Que poderia querer com ele, ali, novamente. Já estava há quieto, não tinham conseguido tudo que queriam? Agora resolveram acompanhar até as suas visitas médicas. Quando isso ia parar? E o outro que ali estava? Não, este era filho do velho deitado. E por que o oficial me olha assim?

         O oficial olhou ansioso para o médico que entrava no quarto. Tomara que ele trouxesse boas notícias sobre o seu irmão. Esse irmão que era o mais velho e o mais querido por todos. Com seu jeito rude de carpinteiro, sempre protegeu o seu irmão mais novo, como alás protegia a todos. E agora ali deitado. Mas, espera aí. Conheço esse médico. É aquele subversivo que o comandante pediu  para dar um susto. – Não é peixe grande, Simonato. Só dá uma seguida ostensiva nele que é para ele saber que a gente está de olho. – E agora ele está aqui. Será que me viu entrar e veio tirar satisfações? Dou-lhe um couro aqui mesmo. Não, não é não. É o médico do Zé. Ah. Meu Deus! Será que ele se lembra de mim e pior, vai querer se vingar do meu irmão pelo susto que lhe dei? E por que ele me olha assim?

         No quarto, mais duas pessoas. Uma deitada na cama, semi consciente, nada percebia do que estava acontecendo. O outro não entendia a cena. Seu tio e o médico que cuidava do seu pai, parados, um olhando para o outro, fixos, quase sem respirarem, se encarando como dois galos de briga, com um misto de surpresa e raiva, mas ao mesmo tempo com uma leve sensação de medo.
         O médico é o primeiro a reagir. Seu dever profissional fala mais alto. Dirige-se ao paciente e inicia sua rotina.
         O oficial sente-se na obrigação de falar:
         — É meu irmão. Sofreu um acidente.
         — Seu irmão?
         — Sim. Este é o filho dele. Meu sobrinho.
         — Já o conheço. Já o vi por aqui. Como o seu pai está? Algum comentário?
         O filho leva um tempo para reagir. Toda a cena parece meio teatral. Os dois, médico e oficial continuam com uma polidez forçada. Consegue responder:
         — Sim, sim. Passou melhor a noite. Mas está meio agitado.
         O médico inicia então seu exame. De vez em quando, olha para o oficial. Lembra-se de quando esteve na mão dele. Lembra-se do susto, da raiva. Da imensa raiva oriunda da impotência de não saber brigar contra tudo o que estava acontecendo no seu  país. Sua mente está ali, apalpando pele, examinando ossos, mas ao mesmo tempo está numa sala, ouvindo ordens daquele homem vestido de verde. Que devia fazer isso, que devia fazer aquilo.
         Enquanto o médico exerce sua função, o oficial fica lembrando da missão que teve. Aquele médico parecia tão inocente na época, mas durante a palestra foi mostrado como estes mais inocentes é que eram os cabeças do movimento que tentava implantar o comunismo no Brasil, que alimentava os ladrões de bancos, que davam abrigo e proteção para os bandidos que não gostavam do Exército. Exército que ele aprendeu a amar e a respeitar desde quando se alistou há mais de trinta anos. Será que ele lembra de mim?
         — Olha – disse o médico – a situação não está muito boa. Talvez tenhamos que opera-lo. Tem um coágulo no cérebro que deverá ser operado.
         — É muito grave? – perguntou o filho.
         — É preocupante. Na idade dele, qualquer intervenção é perigosa. Ele já teve algum problema?
         Enquanto o sobrinho relatava ao médico a história dos problemas médicos do seu irmão, o oficial ficava por ali, esperando, pensando em como conversar com aquele médico. Explicar-lhe que estava cumprindo seu papel da mesma forma que o doutor estava exercendo o dele. Que tinha que fazer bem feito o que fez, e que principalmente, o seu irmão não tinha nada com isso. Continuava a olhar furtivamente o seu oponente. Não sabia se devia baixar o olhar, mas não ia demonstrar fraqueza. Também não queria encará-lo, para não parecer provocação.
         O médico continuava seu trabalho. Nem por um momento passou-lhe pela mente tratar seu paciente de forma menos eficiente, aliás, trataria bem o próprio oficial se fosse que ali estivesse deitado. Mas não podia deixar de recordar a vontade que sentia de lhe dizer umas “verdades”. Mas, a morte recente do jornalista ainda estava fresca na cabeça dele. Sabia que aquela era uma guerra não acabada, e talvez não acabasse nunca. Agora, aqui neste quarto, era um momento de trégua.
         A cena termina. O médico retira-se. Cumprimenta polidamente os dois acompanhantes. Tem outros pacientes para visitar. No quarto, depois de um tempo, o oficial explica a seu sobrinho quem era o médico e o que tinha acontecido entre eles.
         O sobrinho entendeu então o silêncio, os olhares, e somente muitos anos depois, foi tomar consciência que tomou parte de uns dos inúmeros conflitos pessoais daquilo que a história relatará como um período negro da história do Brasil.