domingo, 13 de janeiro de 2013


ENCONTROS E DESENCONTROS


 

Bem no fim da ladeira, depois de descer alguns quarteirões, vindo da praça Silvio Romero, existiam algumas casas no lado esquerdo, um pouco antes de chegar no córrego. Sobrados germinados. Aos sábados reunia-se ali uma turma. Amigos entre si, faziam bailes, preparavam umas bebidas e uns refrigerantes e tinham assim seu programa de fim de semana. Não sei como cheguei até eles. Algum novo colega:

— A gente se reúne aqui todo sábado. Você é um cara legal, pode vir sempre.

Acredito que fui levado por uma menina que conheci. (onde? Num cinema, num ônibus, na escola, na vida). Aqui a memória foge deixando de novo o espaço para a fantasia correr solta.

No quintal do sobrado, uma vitrola soltava musicas da época, italianas e um pouco de bossa nova. O papo corria mais que as danças. Uma pergunta nunca feita e nunca respondida: Quem morava naquele sobrado? Estive lá umas três vezes, sempre aos sábados à noite e nunca descobri.

Da menina que me introduziu no grupo ficou mais a lembrança dos fatos do que a lembrança da aparência. A fantasia diz que era loira, de cabelos curtos e cara de sapeca, e, como a fantasia é minha companheira e aliada, muito bonita.

— Vamos ao cinema amanhã?

— Só se for para assistir Doutor Jivago. As minhas amigas disseram que é muito lindo.

— E muito comprido também. Mas vai ser gostoso assistir uma história de amor ao seu lado. Mas, acho que já saiu de cartaz.

— Não! Esta passando lá na Mooca. Vamos amanhã. Tem uma sessão as cinco da tarde.

No outro dia, um pouco antes das cinco lá estava eu. Todo arrumadinho, com dois ingressos na mão, e a menina não apareceu. Olhei cada rosto daquela turma toda e não a encontrei. Entrei no cinema mesmo assim e assisti a quase três horas de uma história melosa onde um homem não consegue encontrar uma mulher. Era tudo o que eu queria após levar um cano. Era um aviso: Nunca mais apareci no sobrado.

Outro lugar, outro momento.

O cenário era o último andar da escola, onde existia, ou existe ainda, uma quadra que a comissão de formatura usava para realizar bailinhos. Como componente da comissão tinha alguma liberdade de passear pela quadra, juntando diversão e trabalho. O trabalho era pouco, pois a música estava no ponto, a quadra não precisava de enfeites e a freqüência ainda era pouca. O bar estava arrumado, e como não era meu dia de trabalhar nele só passei para uma conferida e um gin-tônica.

Convidei a menina para dançar. Aqui novamente a fantasia ocupa o espaço da lembrança. Teria sido este mais um dos famosos Pink’s baile, organizados pela nossa turma e que tanto sucesso fizeram naquele ano no nosso bairro, ao ponto das comissões de formatura das outras escolas procurarem saber a data dos nossos para evitar concorrência? Não importa! O que importa é que estava lá, dançando e sobrou o diálogo:

— Gostei muito de dançar com você! (papinho padrão)

— Eu também.

— Toparia ir ao cinema comigo amanhã? (não foi direto assim, mas também não preciso detalhar, use a imaginação)

— Amanhã não posso, mas domingo que vem estarei livre.

— Então tá legal! Domingo que vem na porta da Aladin, as 7 horas.

— Tá legal! Só uma coisa. Desta vez você vai?

Na hora até perdi o passo, devo ter passado do dois pra lá e dois pra ca, para dois e um, mas logo retomei a situação:

— Por que? Do que você está falando?

— É que da outra vez, Sergio,  eu fiquei te esperando um tempão e você não apareceu.

— Você sabe o meu nome?

— E pelo jeito você esqueceu o meu!

É. Tinha esquecido mesmo. No outro domingo fui no cinema. No centro, bem longe do cine Aladin. Pela minha cabeça estava claro que ela só estava aguardando uma oportunidade para se vingar. Ou será que não, e eu dei duas mancadas com aquela menina. Que ela me perdoe, mas continuo sem lembrar o seu nome.

Mas nem todos os desencontros acabam em distanciamento. Teve aquela vez que fui buscar a menina mas ela tinha saído com a amiga porque achou que eu tinha esquecido, mas desta eu fui atrás, e a encontrei no Pinguim em Ribeirão, só que esta já é uma outra história.