J L Borges, como todo genio, transforma coisas simples em obras de arte. Por exemplo, ele escreveu um texto com a pergunta O que é Buenos Aires? como título, onde colocou memórias afetivas, locais, etc. Ficou bonito. E perfeitamente imitável. Eu fiz a mesma coisa com São Paulo. Outros poderão fazer também. Aliás, sugiro que faça. Assim, eu respondo a pergunta
O QUE É SÃO PAULO a moda de Jose Luiz Borges
· É um número 765 atrás do qual a vida veio e foi algumas vezes
· É um paredão escondendo uma fábrica num lado e deixando brotar amores nas suas sombras acolhedoras
· É o barulho do freio de ônibus, acordando renitentes passageiros adormecidos
· É o poeta/cronista cantando a beleza de um burro pastando a grama de um jardim público
· É a biblioteca onde se descobre o poeta
· É o cheiro sufocante de pastel na travessa sórdida, mas que mesmo assim nos alimenta
· É o som baixo do pianista aposentado antes do filme no Cine Ouro
· É o número enorme de habitantes das escadarias solicitando uma esmola
· É o vão debaixo da escada da avenida 23 de maio, onde se escondem o ladrão e os namorados
· "É o Brás, Tietê viadutos, barracas de flores e a multidão"
· É o atravessar a Avenida Celso Garcia de ponta a ponta em plena madrugada, sonhando com outros dias em futuro brilhante.
· É atravessar novamente a Avenida Celso Garcia, flutuando sobre lembranças de um recente momento inesquecível.
· É o cheiro de gás próximo ao Gasômetro, onde antigamente (nem tanto assim) as famílias levavam seus filhos para “abrirem os peitos”
· É o Frevinho fervilhando e o bar da esquina com ovo cozido de casca vermelha.
· É uma calçada na Major Freitas onde se passa devagar na hora do almoço para ver se consegue captar um olhar.
· É a longa escada que nos leva do Anhangabau até o Largo São Bento, pelo Viaduto Santa Efigênia.
· É um cemitério, na Quarta Parada, onde famílias concorriam em homenagem a seus mortos, num espaço delimitado.
· É um ônibus vermelho e amarelo., de numero 34
· É um Horto Florestal, onde famílias se reuniam para o piquenique nos domingos, e onde rapazes e moças encontravam, nas suas trilhas, a resposta para suas imensas dúvidas.
· É Cine Jussara, onde uma única vez fez-se fila imensa. Para assistir Help.
· É Praça do Correio, onde mendigos e prostitutas se juntam no frio para se auto aquecerem, enquanto cansados trabalhadores dormitam nas filas, esperando o “noturno”
· É o som das orquestras que toca nos bailes de formatura nos salões da cidade, onde reinam Dick Farney, Pocho, Silvio Mazzuca, Carlos Pipper e alegram seus inúmeros súditos.
· É a Casa de Portugal, o Pinheiros, o Aeroporto, e quando pintava um amigo rico, o Monte Líbano
· É o pão na madrugada ao sair desses salões (principalmente no Pinheiros)
· É uma rua não muito longa, pois termina no 777, sede do Corinthians
· É uma pequena capela, que se via da via Anchieta, e de onde, aos domingos, a Record transmitia a missa ao vivo.
· É Raul Tabajara iniciando as transmissões esportivas, nas tardes de domingo.
· É cinema, cinema, cinema nas tardes/noites de domingo.
· É um pequeno bar em frente ao Teatro Paramount, com as paredes cheias de fotos e autógrafos famosos
· É o abacaxi do Parque D. Pedro
· É a lingüiça frita no potinho de barro na Churrascaria Central, da Praça Silvio Romero
· É o Avenida Danças, o Som de Cristal, para dançar.
· É o Papagaio Verde para o Virado a Paulista
· É a Feira Paulista de Opinião e o Dois Perdidos numa Noite Suja para instruir
· É o cine Scala para ver diversas vezes 2001